sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Lembranças de um poeta morto

A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.

(Fernando Pessoa)


Houve uma época em que me achei poeta. Escrevia uns versos que ruins, os quais achava bonitos e sonoros. Os escrevi até que pessoas sensatas e sinceras, como os professores Airton Sampaio e o  Di Padua, aquele do Cacimbão da História,  me abriram os olhos. Mas, Narciso quem nunca foi? Como todo adolescente que se preza, gostava de rock. Preferi o nacional.  Minha banda favorita era  (e ainda hoje é) a Legião Urbana

Nos reuníamos para ouvir música, conversar, matar o tempo, beber quando tínhamos algum, éramos de uma constância de irmãos, apesar de nossas casas não serem tão próximas. Não havia face nem celular nem smart, naquele tempo era cara-a-cara.  Um dos episódios que mais nos deixou tristes foi o falecimento do Renato Russo, o vocalista da banda, poeta da juventude de uma geração que não se deixou esquecer daquele que embalava nossos encontros e inspirava nossa vida. 

Dentre outras coisas, essa morte ficou marcada por ter ocorrido em outubro. Eu nasci no dia 1°, o Vagner, meu irmão mais velho, nasceu no dia 11, meu grande e eterno amigo Valdeirton, nasceu no dia 13. Minha filha mais velha, tempos depois, nasceu no dia 06. Tornei-me professor, e assim ganhei um dia 15 de presente. Valdeirton também foi professor. E o Vagner, se quisesse, seria um ótimo professor de História.
Assim, não há como não lembrar... Como diria o Renato, 

força sempre!

TRISTE OUTUBRO

(Sobre a morte de Renato Russo)

Triste outubro o que te levou qual profecia
Oculta em mim, nos frágeis versos que eu fazia,
Desejando partir - na tranquilidade dos ventos
Que arrastam folhas e flores e amores...

Pensamentos... arrastam-te de nós, jovens...
São 1 e 15. Imagino sua ofegante respiração
Sua agonia, a cama - há muito já vazia.
Tudo que alguém soube do amor ora é tormento
E em quem te ama a solidão é inocência
E nela é sofrimento.

Na flor da manhã, o perfume de uma roseira
Que aniversaria - comemoramos e celebramos.
Num ramalhete de crisântemos brancos que se sacrificam
Sentiu-se mais solene o perfume dessa despedida.
A alegria contaminou-se então.

Sentiu-se a tristeza do sonho em poesia.
Triste outubro o que te levou qual profecia:
Triste outubro, aquele que veio nos trazer
A dor de uma geração, sem perceber o que fazia...

 Orlando Nascimento, Teresina, 1997.